quinta-feira, 20 de novembro de 2008

De uma avenca partindo.

*Praticamente uma cópia mal feita do conto de Caio Fernando Abreu ("Para uma avenca partindo")


- Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, de todas essas coisas, se elas não chegarem a serem ditas, com certeza, não ficarei satisfeita com o que existimos, se é que existimos, porque você sabe, eu sempre tive tanto medo de penetrar aquilo que não sabia se eu teria coragem de viver, no mais fundo, eu sofri, sabe? existem coisas em que não se pensa, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a ser dita, ou melhor, pensei sim, não sei se pensei propriamente, mas sabia, sim eu sabia desde o princípio, havia alguma coisa além daquele constrangimento posterior, da falta de assunto, da vontade de não perder o contato que perdemos, eu me arrependi, não, eu não me arrependi, mas queria, a diferença entre nós dois é que eu sempre quis conseguir viver das superfícies e nunca consegui e que você parecia sempre esperar algo de mim e não esperava nada além daquela noite, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim dum jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver nascer uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressiva não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu o mantivesse preso num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, talvez eu tenha crescido assim pra você, ou talvez, você nem tenha chegado a me plantar, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai ser mais possível, e se eu não disser tudo não poderia nem dizer nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é a minha última tentativa, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor, não é? não importa! eu queria te dizer dessas vezes em que eu saía e ficava louca pra ligar, ou que eu ficava louca pra conversar, sobre a porção de coisas que eu sempre queria te dizer e não dizia, existem coisas que não se calam, mas também não são, nunca, ditas, eu me perguntava se você entenderia, se você teria, não sei, disponibilidade suficiente para ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las e entende-las , disponível em relação a quê? não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, só fico querendo te dizer como eu esperava você me convidar pra sair, porque, apesar de não parecer, eu aceitaria, eu aceitaria sempre, eu teria aceitado um milhão de convites furados, e até alguns programas de índio e ainda esperaria ansiosamente, mas não é só isso, não, eu queria chegar o mais próximo daquilo que existe lá no centro, aquilo, sabe? aquilo que eu descobri, dia destes, existindo, e eu nem supunha que existia, acho que foi o fato de não ter que me fez descobrir tantas coisas, o fato de perder eu diria, o fato de você, e eu, partir, eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? escuta, está tudo definido aqui dentro só espera um pouco mais... eu morria ao te ver com a amiga, não a sua, mas a minha amiga, é, não, eu não gostava mesmo, você despertou isso em mim, isso, e esse isso não é nada bom, isso me fazia pensar que eu, ou você, não passava mesmo de uma simples avenca, por quê? eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisa que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê.

domingo, 16 de novembro de 2008

Poetizando

Eu pequei ao esperar mais de pessoas que já haviam me dado tudo o que podiam,
ao esperar mais de tudo o mais intenso que vivi,
ao esperar mais do que só podia esperar o mínimo!

Eu pequei ao querer mais do meu próximo,
ao querer mais intensidade,
ao querer mais de mim!

Eu pequei ao desejar tudo que eu sabia que não teria,
ao desejar que tudo desse errado, apenas para lembrar uma novela,
ao desejar ter aquilo que possuí e despresei, apenas depois de perder!

Eu pequei ao esperar demais,
eu pequei ao querer demais,
eu pequei ao desejar demais,
e não fazer nunca por onde adquirir...
Pelo simples prazer do sofrimento!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Traumas-tizantes

Sabe, trauma é pessoal e intransferível. E esse negócio de que o tempo é a cura é clichê e deixa controvérsias. Em plena TPM, depois de uma conversa com um amigo que tentou de todas as formas me livrar disso totalmente feminino e feminista e não conseguiu (espero não ter traumatizado-o), parei para pensar.
É incrível como nas minhas últimas TPMs do ano sempre me pegam de jeito e quase me deixam de cama. Voltam todos os aqueles traumas que eu pensava terem me abandonado, apenas para me mostrarem o quão mal-resolvidos eles são! Reflexão, alguma mulher é capaz de não pensar em tudo mais do que nunca nesse período?- Acho que pensar é o male dos males, mulher pensa demais. Nesse período de sensibilidade exacerbada então, tudo faz chorar.
Aquele cara que não te quis, o outro que te trocou pela sua amiga top, aquele por quem você sofreu anos e mesmo percebendo o “quanto” ele merecia você continua a sofrer porque não consegue esquecê-lo. Aquela sua amiga que você pensava não ser mais sua amiga, mas ainda é e você sente muito por ter se afastado; a outra que depois de anos de amizade, você percebe não ter tido, em nenhum momento, qualquer espécie de amizade. Aquela que você conhece a anos, que equivalem a meses e que é a que te conhece melhor. O pessoal da faculdade que você abandonou e são as melhores e mais divertidas pessoas que você já conheceu na vida e sempre mandam notícias e que te fazem sempre lembrar que é especial e que você daria um braço para que eles não saíssem da sua vida.
Tudo volta e você se arrepende de tudo e não pode fazer mais nada e mesmo que pudesse, mais pra frente você se arrependeria de novo e assim sucessivamente.
As primas que você não vê a tempos e que você não sabe mais nada da vida delas. Droga! O tema de vocês era, “a gente vive junto, a gente se dá bem...”. Eita! A gente cresce e percebe que os caminhos mudam, as pessoas mudam e se mudam e, claro, você também não é o mesmo.
Quando eu era criança não entendia como os adultos queriam voltar a ser criança se o que eu mais queria era crescer! Agora eu entendo... Muito bem, por sinal. Pessoa frustrada e “bundona” e carente que me tornei. Queria ser a menina mimada e mandona de outro dia! Longe de tudo que fosse sério demais, chato demais, adulto demais, responsável demais....
Traumas, cada um tem os seus. São pessoais e intransferíveis. Dissolva-os, quem puder!